Mineradoras precisam acelerar investimentos para atender demanda de transição energética, diz ICMM
Segundo CEO da entidade, que reúne 24 das maiores mineradoras do mundo, transição também exigirá que governos acelerem a avaliação e a liberação de lavras de exploração mineral
A transição energética vai exigir um aumento significativo na produção de minerais críticos, como cobre, níquel e lítio, usados em projetos de geração de energia fotovoltaica, eólica, em motores de veículos elétricos, entre outros. Nesse cenário, as mineradoras precisarão acelerar investimentos que englobem aumento de produção e respeito à biodiversidade. E, para que esses projetos deslanchem, os governos precisam dar celeridade à avaliação e liberação de lavras de exploração mineral. A avaliação é do presidente e CEO do Conselho Internacional de Mineração e Metais (ICMM), Rohitesh Dhawan, que está em visita ao Brasil.
Até 2030, o investimento necessário para satisfazer a procura pelos minerais e metais necessários para a transição energética global será de US$ 360 bilhões a US$ 450 bilhões, segundo o ICMM.
“Não é apenas uma questão de dinheiro, tem mais a ver com aumentar a velocidade na emissão das licenças de mineração, reduzir a burocracia em torno do licenciamento, sem reduzir o padrão de exigência de mineração responsável”, afirmou o executivo, em entrevista ao Valor.
No mundo, observou Dhawan, 127 novas minas começaram a ser exploradas nos últimos 20 anos. Em média, as mineradoras demoraram em torno de 16 anos desde a descoberta de minério no local até obter as licenças para começar a extração. “É um prazo muito longo para atender às necessidades de transição energética. Os governos são os principais intervenientes para nos ajudar a mudar isso”, disse Dhawan.
O executivo considera que os governos despertaram nos últimos cinco anos para a necessidade de acelerar o passo, para fazer a transição energética. Ele citou a criação, há dois meses, de um painel na Organização das Nações Unidas (ONU) de trabalho sobre metais críticos e de transição energética, que reúne 35 governos e organizações internacionais para desenvolver princípios que vão orientar a mineração responsável.
Um dos desafios do setor, segundo Dhawan, é justamente a existência de padrões diferentes usados no mundo quando se trata de mineração responsável. Ele defende a consolidação de um padrão único, que permita às mineradoras em qualquer lugar do mundo produzir de forma responsável.
Dhawan citou como outro desafio para o setor a inexistência hoje de prêmio para a produção do aço verde e de outros minerais produzidos de forma sustentável e com baixas emissões de carbono.
“Muitas pessoas estão preocupadas se, com o aumento da mineração para suprir a demanda de minerais críticos para transição energética, haverá piora da natureza. Queremos dar garantias à sociedade de que iremos minerar cuidando da natureza, para minimizar nosso impacto direto, tanto quanto possível, enquanto maximizamos a nossa contribuição”, disse Dhawan.
De acordo com o executivo, os membros do ICMM que operam no Brasil têm algumas das melhores práticas do mundo em conservação e proteção da natureza. Ele citou como exemplo o projeto de mineração da Vale em Carajás (PA), onde a empresa conserva e protege 11 hectares de área para cada um hectare usado na mineração, totalizando 800 mil hectares conservados de Floresta Amazônica. Outro exemplo é da norueguesa Hydro, que usa tecnologia para reabilitar a terra usada na extração de bauxita.
Em relação ao Brasil, Dhawan observou que o país é um competidor global muito importante, com suas reservas de minério de ferro, cobre, níquel, grafite e lítio. O país também tem boas relações internacionais com os principais compradores, especialmente com Estados Unidos e China. E tem capacidade de minerar de forma sustentável e responsável, graças às abundantes fontes de energia renovável. “A questão é, o Brasil está maximizando todo o seu potencial? Me parece que há mais que pode ser feito para maximizar resultados como país fornecedor de minerais críticos”, afirmou Dhawan.
Em janeiro, as grandes mineradoras globais lançaram em Davos, na Suíça, durante o Fórum Econômico Mundial, um conjunto de compromissos de preservação ambiental, sendo o principal a perda zero de biodiversidade nas operações diretas, tendo como referência o ano de 2020. A meta é que após o fechamento de uma mina, a região não apresente perda de biodiversidade em relação ao que foi medido em 2020.
Dhawan disse que esse compromisso envolve três níveis. Além do impacto direto causado pela mineração, a agenda envolve a restauração e conservação da natureza da região e dos municípios onde há a atividade minerária, incluindo os impactos causados pelos fornecedores e clientes. Em última instância, o setor se compromete a trabalhar para mudar o sistema financeiro, para que a valorização da natureza seja considerada em todas as decisões de negócios.
Dhawan visita nesta terça-feira (18) Brumadinho (MG) com outros representantes do setor de mineração. Eles visitarão as comunidades atingidas pelo rompimento da barragem da Vale, em janeiro de 2019. O rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão causou a morte de 270 pessoas, incluindo duas gestantes, e um desastre ambiental na Bacia do Rio Paraopeba. Do total de vítimas, três ainda não tiveram os restos mortais encontrados. As buscas seguem até hoje.
Dhawan vai ver de perto as ações de reparação promovidas pela Vale. Ele também vai visitar a área onde é feita a busca dos restos mortais. Na quarta (19) e na quinta-feira (20) ele terá reuniões com representantes do setor para discutir assuntos do ICMM.
“Optamos em vir para o Brasil para que as outras empresas possam visitar Brumadinho, conhecer as ações de reparação e avaliar os acidentes que ocorreram. Queremos que a antiga indústria de mineração garanta que levamos adiante as lições de Brumadinho e garanta que isso nunca mais acontecerá”, afirmou Dhawan.
O ICMM possui como membros 24 das maiores mineradoras do mundo. Juntas, respondem por um terço da produção mineral global. Fazem parte do ICMM as empresas Alcoa, Anglo American, Anglo Gold Ashanti e Vale.
Dhawan disse ainda que, durante a visita, será avaliado o trabalho feito no Brasil pelas mineradoras membros para implementar o padrão global da indústria na gestão de rejeitos. Esse padrão foi desenvolvido após o desastre de Brumadinho.