Mineração no Brasil: Crescimento em ESG, Energia e Logística mesmo em um cenário global adverso
O setor de mineração é um dos pilares da economia brasileira, representando um impacto significativo na geração de receitas e empregos. Em 2023, mesmo em meio a um cenário global desafiador, a indústria mineral no Brasil conseguiu apresentar resultados que se destacam quando comparados à média mundial. O faturamento do setor alcançou R$ 248,2 bilhões, um recuo discreto de 0,7% em relação ao ano anterior, mas que evidencia uma resiliência importante diante da retração global. Para o primeiro semestre de 2024, o crescimento no Brasil foi de 8%, com faturamento de R$ 129,5 bilhões, de acordo com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).
Desafios Globais e Oportunidades Locais
O cenário global enfrenta uma retração significativa, com as 40 maiores mineradoras do mundo apresentando uma queda contínua nas receitas desde 2022. Segundo o relatório Global Mine da PwC, em 2023, a receita global caiu 7%, e a previsão para 2024 é de mais uma redução de 6%, totalizando US$ 792 bilhões. Esse declínio é impulsionado pela queda nos preços de commodities-chave como níquel, lítio e minério de ferro, fortemente impactados pela desaceleração da atividade industrial global, especialmente na China.
No entanto, apesar da retração global, o Brasil desponta como uma exceção. O setor de mineração no país se beneficia de investimentos crescentes, especialmente em áreas estratégicas como energia, logística e projetos socioambientais. A previsão é de um aumento de 28,8% nos investimentos entre 2024 e 2028, alcançando US$ 64,4 bilhões. Grande parte desse montante será destinada a iniciativas que, embora não representem expansão direta da produção mineral, são fundamentais para a sustentabilidade e eficiência do setor.
Mineração e ESG: Caminhos para um Futuro Sustentável
Um dos destaques no setor mineral brasileiro é o crescimento dos aportes em projetos ESG (Ambiental, Social e Governança). Os investimentos em iniciativas socioambientais estão projetados para crescer 62,7%, somando US$ 10,67 bilhões. A desativação de barragens de rejeitos, uma questão crítica para a segurança e o meio ambiente, é um dos principais focos dessas iniciativas.
Essa tendência reflete uma mudança no comportamento da indústria, que busca alinhar-se com as demandas globais por maior sustentabilidade e governança responsável. Além dos impactos ambientais positivos, esses investimentos reforçam a imagem da mineração brasileira como um setor comprometido com práticas sustentáveis e com a adoção de tecnologias de baixo impacto ambiental.
Logística e Energia: Bases para a Competitividade
Outro aspecto fundamental para o futuro da mineração no Brasil é o aumento expressivo nos investimentos em logística. Estima-se que US$ 10,36 bilhões sejam aplicados em melhorias logísticas, uma alta de 133%. Esse investimento é essencial para melhorar o escoamento da produção mineral, reduzindo custos e aumentando a competitividade no mercado global.
Paralelamente, os minerais estratégicos para a transição energética, como terras-raras, lítio e níquel, estão recebendo atenção crescente. O Brasil, com suas vastas reservas de lítio e grafita, está bem posicionado para atender à demanda crescente por tecnologias limpas, como veículos elétricos e energias renováveis. Investimentos nesse segmento crescerão substancialmente, com um aumento de 870,6% nos recursos destinados a terras-raras e de 174,8% para o lítio, consolidando o Brasil como um player estratégico na transição energética global.
Obstáculos e Oportunidades
Apesar dos avanços, o setor enfrenta desafios significativos, principalmente relacionados à burocracia e à tributação. O Brasil tem a maior carga tributária sobre a mineração entre os grandes produtores, o que afeta a competitividade e a atratividade de investimentos. Além disso, o processo de licenciamento ambiental é notoriamente demorado, levando, em média, 22 anos para que uma mina entre em operação, enquanto a média global é de 15 anos.
Outro desafio está na exploração de metais não ferrosos. Embora o Brasil possua algumas das maiores reservas de nióbio, grafita e lítio no mundo, o país recebe apenas 3% dos investimentos globais em prospecção. A falta de mapeamento geológico detalhado e o financiamento inadequado para empresas de menor porte inibem a prospecção mineral, uma atividade de alto risco, mas essencial para o desenvolvimento de novos projetos.
Perspectivas para o Futuro da Mineração Brasileira
O setor de mineração brasileiro tem mostrado uma capacidade notável de adaptação e resiliência em meio a um cenário global adverso. Os investimentos crescentes em ESG, logística e minerais estratégicos indicam que o Brasil está se preparando para consolidar sua posição como um ator-chave na indústria global, especialmente no contexto da transição energética.
No entanto, para que o país aproveite plenamente seu potencial, será necessária uma estratégia pública mais eficiente, focada em aumentar a competitividade, reduzir a carga tributária e acelerar o processo de licenciamento ambiental. Somente assim o Brasil poderá atrair mais investimentos, impulsionar a prospecção de novos recursos e se posicionar de forma competitiva no cenário global de mineração.
A mineração no Brasil tem potencial não apenas para continuar crescendo, mas também para ser um exemplo global de como a sustentabilidade e a inovação podem caminhar lado a lado em um setor essencial para o desenvolvimento econômico.