Agronegócio: como será o perfil do setor brasileiro do futuro segundo estudo
A chegada de novas tecnologias e a participação dos mais jovens no dia a dia de manejo está influenciando profundamente o perfil do agronegócio brasileiro. A conclusão é de um estudo da consultoria de inovação Inventta, responsável por mapear as seis tendências mais proeminentes do agronegócio do futuro, na visão de especialistas e funcionários do setor.
Além de pesquisas de mercado, a consultoria também ouviu cerca de 400 agricultores e pecuaristas, de produtores familiares a grandes produtores, nos estados de Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.
As principais tendências do futuro
Para a Inventta, seis movimentos irão pavimentar o perfil do agronegócio brasileiro daqui em diante. Entre eles estão: adoção de tecnologias, participação ativa das novas gerações, transformações nos hábitos de consumo e a gestão inteligente de recursos naturais.
Mais jovens no campo
No que tange à participação de jovens no campo, a Inventta destaca a chegada de uma nova geração de filhos de agricultores ao dia a dia ligado à gestão das propriedades rurais. Com a influência de pensamento inovativo dos entrantes no setor, defendem os especialistas, a adoção de novos métodos de produção baseados em inovação e tecnologia se tornará mais comum.
De acordo com o estudo, a mudança geracional pode estar desvinculada do caráter sucessório ao qual o agronegócio brasileiro (especialmente o familiar) é geralmente associado. Com a adoção de novas tecnologias, o acesso ampliado à educação e à implementação de políticas públicas que favorecem os moradores de regiões rurais, a permanência dos mais jovens na profissão acaba se tornando uma escolha, e não mais uma obrigação.
“Com isso, a Inventta destaca duas grandes tendências ligadas à mudança geracional do setor: a digitalização e gestão técnica das fazendas. “Ao assumirem, gradualmente, a gestão das fazendas, esses novos produtores e produtoras passam a impactar diretamente a performance da produção”, explica Henrique Monteiro, consultor e líder de projetos da Inventta.
Sob a gestão de líderes mais afeitos às tecnologias digitais — do uso de smartphones à contratação de serviços e compra de insumos por plataformas digitais — surge uma nova cultura e mentalidade no campo, afirma. “Essa nova cultura tem estabelecido outras formas de gerir o campo, ainda baseada em conhecimentos passados de geração em geração, mas muito menos centralizadas na figura do produtor tradicional. Mais apoiadas por tecnologias e métodos produtivos”, diz.
Consumidores mais preocupados
Outra tendência em voga para o agro brasileiro, segundo o estudo, é a preocupação com a sustentabilidade. Com consumidores mais exigentes e preocupados com impactos gerados pela cadeia produtiva, a agropecuária também será pressionada para a adoção de práticas mais amigáveis ao meio ambiente. Segundo a Inventta, entre as principais tendências ligadas às mudanças nos comportamentos de consumo está a valorização do pequeno produtor, preocupação com o bem-estar animal e a busca por maior transparência e rastreabilidade dos produtos agropecuários.
O desafio, porém, está em conciliar a agenda de sustentabilidade com o preço de produtos “verdes”, por assim dizer. Segundo Monteiro, o preço é hoje um dos principais influenciadores de decisão de consumidores na hora de optar por um produto. Por isso, é necessária a criação de uma agenda de incentivos à prática sustentável. “É necessária uma maior participação governamental que patrocine essa mudança na cadeia agropecuária do Brasil, levando conhecimento técnico, crédito, outras formas de incentivo que o modelo sustentável mais competitivo”, afirma Monteiro.
Tecnologia em peso
Para a Inventta, um fator decisivo para compreender o perfil do agronegócio brasileiro está ligado ao uso de tecnologias de ponta. Influenciado pelas práticas já adotadas em outras economias globais, o Brasil pode se tornar uma potência no que diz respeito à aplicação de ferramentas como Inteligência Artificial (IA), Machine Learning, Big Data e biotecnologia, que consiste no melhoramento genético das produções.
De acordo com o especialista da Inventa, o Brasil é hoje referência em biotecnologia pela criação de linhagens agrícolas capazes de lidar com a escassez e outras intempéries climáticas, fatores que aceleram a corrida em busca de plantações resilientes. Sendo assim, no agronegócio do futuro, será possível ter mais previsibilidade e adaptabilidade.
Ainda em relação às tecnologias, o estudo também destaca a tendência “campo digitalizado e conectado” a partir do uso de tecnologias de monitoramento como drones, sensores inteligentes e mini satélites. Esses mesmos equipamentos podem auxiliar na gestão de recursos naturais, já que permitem a visão sistêmica das plantações.
Menos produto, mais serviço
Resiliente a crises, o agronegócio segue sendo um dos setores a manterem desempenho positivo, mesmo com os altos e baixos do cenário macroeconômico. Como uma das principais atividades econômicas do país, o agronegócio impulsiona grandes indústrias, mas também representantes de menor porte que têm no cultivo, como pequenos produtores rurais e agricultores familiares.
Para essas empresas, a Inventta aponta uma nova fronteira de exploração, a partir de novos modelos de negócio em ascensão. Entre eles, o de servitização, no qual empresas oferecem soluções ao invés de produtos para venda.
Segundo a Inventta, os negócios baseados nesse modelo podem possibilitar o acesso a tecnologias emergentes por uma parcela cada vez maior de produtores rurais, que usualmente não teriam condições de utilizar ferramentas sofisticadas em seu dia a dia.