O Agro e o clima: desafios e oportunidades em tempos de mudanças
O agronegócio brasileiro enfrenta uma nova realidade em que o clima se tornou um fator central para o sucesso das atividades agrícolas. De acordo com Sérgio Mendes, diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), o clima e a logística têm se tornado preocupações primordiais, superando, em muitos casos, as influências do mercado sobre a produção agrícola.
Desafios Climáticos e Seus Efeitos no Agronegócio
Nos últimos anos, a atividade agrícola tem sofrido consideráveis impactos devido a eventos climáticos extremos. A seca no rio Amazonas, agravada pelo fenômeno El Niño, resultou em uma queda significativa na produção de grãos. As ondas de calor intensas no Centro-Oeste, responsável por metade dos grãos colhidos em 2023, e as devastadoras enchentes no Rio Grande do Sul em maio deste ano, que destruíram cidades e causaram perdas de vida, são exemplos das adversidades climáticas que afetaram diretamente a produção agrícola.
Esses eventos causaram uma redução significativa na produção de grãos. A produção total de grãos no Brasil caiu de 319,81 milhões de toneladas na safra 2022/2023 para 299,27 milhões de toneladas na safra seguinte, representando uma frustração de quase 20,545 milhões de toneladas. Esta foi, no entanto, a segunda maior produção da série histórica, apesar da queda de 15,8% na produtividade da soja em Mato Grosso e a perda de 9,43 milhões de toneladas na produção total de grãos no Estado, que representou aproximadamente 46% da queda registrada em todo o país.
A Importância da Sustentabilidade e das Políticas Ambientais
As questões ambientais têm ganhado destaque no cenário do agronegócio, especialmente em relação às exportações. A crescente pressão internacional por práticas sustentáveis reflete-se nas exigências de mercados importadores, como a União Europeia e a gigante chinesa Cofco International, que recentemente importou soja brasileira livre de desmatamento. Este primeiro carregamento de 50 mil toneladas é um indicativo de como os requisitos ambientais estão moldando o comércio global de commodities agrícolas.
A preocupação com as mudanças climáticas e a sustentabilidade também se reflete nas discussões sobre o Código Florestal e a Moratória da Soja. O debate sobre a flexibilização das regulamentações ambientais e as possíveis consequências para a credibilidade do setor são pontos críticos que merecem atenção. A European Union Deforestation Regulation (EUDR), que entrará em vigor no próximo ano, também adiciona um nível extra de complexidade e incerteza, exigindo que o setor se ajuste às novas regulamentações para garantir a conformidade.
Impactos Econômicos e Perspectivas Futuras
A volatilidade climática tem contribuído para a instabilidade na produção e nos preços agrícolas. O fenômeno El Niño resultou em uma redução de 2,2% no PIB do agronegócio no primeiro trimestre de 2024, com uma baixa de 3,83% para o ramo agrícola, enquanto a pecuária apresentou um aumento de 1,68%. As flutuações nos preços e a queda na produção têm pressionado o setor, mas a perspectiva para a próxima safra é mais otimista. Espera-se que os custos de produção estabilizem e que as margens de lucratividade para a soja e o milho melhorem, impulsionadas pela redução nos custos operacionais. A previsão de uma boa safra em 2024/2025, apesar dos custos ainda elevados, oferece uma luz no fim do túnel para os produtores.