Transição energética impulsiona corrida por minérios usados em baterias

Transição energética impulsiona corrida por minérios usados em baterias

Geração de energia limpa demanda 3 bilhões de toneladas de minérios como grafite, lítio e cobalto

 

A transição energética em curso leva governos e empresas ao redor do mundo a buscar soluções sustentáveis para o armazenamento. Até 2050, de acordo com dados do Banco Mundial, esse futuro mais limpo demandará 3 bilhões de toneladas de minerais necessários para a construção de baterias.

 

De 2017 a 2022, a procura global por lítio triplicou, segundo levantamento da AIE (Agência Internacional de Energia). No caso do cobalto, o salto foi de 70%, enquanto a busca por níquel aumentou 40%. Entre os minerais considerados críticos para a transição energética há ainda o cobre, o grafite e as terras raras.

 

As reservas estão espalhadas pelo mundo, o que cria desafios logísticos. O professor do departamento de Engenharia de Mineração e Petróleo da USP, Luiz Enrique Sanches, afirma que uma das grandes preocupações, hoje, é a organização das etapas dessa cadeia produtiva.

Sanches cita o lítio como exemplo. ” Há os lugares em que o minério é extraído e os lugares em que é processado industrialmente.”

 

Para o especialista, os países com melhores resultados na transição energética deverão ser aqueles com capacidade de explorar e processar esses minérios criticos em território nacional —ou boa parte deles—, com objetivo de depender menos de atores externos.

 

Segundo o diretor da A&M, David Wong, as fábricas de baterias chinesas detêm hoje 60% da capacidade global de fabricação, enquanto as montadoras do país são responsáveis pela montagem de 70% dos carros elétricos disponíveis atualmente no mundo.

 

Além disso, os chineses detêm praticamente 50% dos minérios necessários à produção dos acumuladores de energia e já dominam toda a cadeia de processamento. Outros países buscam caminho semelhante.

 

Wong lembra que há novas fábricas de baterias surgindo na Coreia do Sul, na Europa e na América do Norte. São investimentos como o feito pelo grupo Volkswagen, que constrói fábricas em Salzgitter (Alemanha), Valência (Espanha) e St. Thomas (Canadá).

 

Outro movimento geopolítico para diminuir a influência chinesa é a procura por lítio, fosfato e ferro em regiões que não estão sob o controle do país asiático.

 

Esses movimentos devem reduzir a parcela chinesa nos próximos anos, mas sem que isso represente o fim do domínio. “Espera-se que a China fique com 50% da produção de baterias até o final da década”, afirma Wong.

 

Apesar de alguns países terem grandes reservas de alguns desses minerais essenciais ou dominarem as etapas de processamento, o professor Luiz Enrique Sanches acha pouco provável que seja criada uma entidade semelhante à Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo).

 

A organização, formada nos anos de 1970, até hoje representa os grandes produtores de petróleo e gás, mesmo com a entrada de novos players no setor.

 

“A quantidade que chamamos de reservas minerais não é um número estático. São feitas pesquisas geológicas que vão paulatinamente descobrindo novos depósitos, ampliando continuamente o conhecimento sobre o que existe”, diz Sanches.

 

Para Wong, o freio de uma “Opep dos minérios” está relacionado ao fato de hoje montadoras como Tesla, GM, Volkswagen e Ford atuarem tanto na exploração como na produção. “As montadoras não eram donas do petróleo, mas hoje têm controle ou participação significativa desde a mineração até a fabricação de baterias.”

 

O Brasil quer entrar nessa disputa, e o caminho passa pelo lítio. Vitor Saback, secretário Nacional de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do MME (Ministério de Minas e Energia), diz que o interesse do Brasil vai além da exploração.

 

“Queremos ampliar as etapas tanto no lítio como em terras raras, fazendo a separação dos elementos em todas as substâncias necessárias para transição energética”, afirma. “E já está comprovado que nós temos reservas para um tempo bem significativo de vida útil das nossas minas.”

 

Pensando na agilidade necessária para os inícios das explorações nas jazidas de minério no Brasil, o MME deve desenvolver uma política pública para os minérios da transição. Antes, entretanto, será necessária a reestruturação da ANM (Agência Nacional de Mineração).

 

“O setor mineral, diferentemente de outros, envelheceu, o seu marco é de 1967. Temos processos na agência e na mineração que ainda não foram digitalizados, precisamos modernizar o setor”, diz o secretário.

 

Hoje, a média global para o início das explorações em jazidas de minério oscila de cinco a sete anos —considerando a descoberta, os estudos e o licenciamento ambiental. No Brasil, de acordo com Saback, há estados em que a liberação para esse início das explorações pode demorar mais de 10 anos.

 

Entretanto, ele pontua que não é intenção do MME apenas reduzir esse prazo, mas propôr uma mineração onde os players ruins —que não fazem uma mineração sustentável e não dão à comunidade onde estão instalados a segurança necessária— não atuem nesta nova fase do setor. “Mineração, agora, é palco de empreendedores que desenvolvem uma relação com as suas comunidades.”

 

As principais reservas de lítio do Brasil estão no Vale do Jequitinhonha, uma das regiões mais carentes de Minas Gerais. O mineral começou a ser extraído e exportado neste ano, e o principal destino é a China.

 

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