Um alívio foi anunciado quando finalmente o leilão do 5G ocorreu em novembro de 2021. Com atraso em relação a muitos parceiros no G20, o Brasil marcava o passo inicial à implementação da já não tão nova tecnologia. Depois de quase oito meses, no plano piloto, Brasília é a primeira cidade do país a receber a conexão total: os sinais foram ligados na última quarta-feira, 6, dando início ao trajeto. Todas as capitais estarão com a tecnologia instalada até 29 de setembro, segundo previsão da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Mas um caminho para um Brasil “full 5G” é longo, , com previsões mais otimistas no pós 2030.
Fato é que o 5G também está muito longe de representar só uma conexão mais rápida no setor de telecomunicações, com exemplo dos celulares ou das TVs smart. A frequência permitida pela tecnologia, em sua amplitude, é um marco gigantesco para a indústria brasileira, como um todo. Em entrevista a VEJA, o Superintendente de Desenvolvimento Industrial da CNI, Renato da Fonseca, aborda como o 5G impacta o crescimento de longo prazo do país – quantificado em 80 bilhões até o final desta década.
Para além da questão do aumento de conexão, o que você visualiza como efeitos práticos do 5G na indústria brasileira?
Você tem obviamente o que todo mundo comenta: o momento de velocidade. O download sai de 1 gigabit por segundo, vai para 10 gigabit por segundo – dez vezes mais rápido. A confiabilidade no sistema é outro ponto, ou seja, a perda mínima de dados (processados). Fator importante para uma indústria funcionar. O que a gente chama de indústria 4.0 é ter, por exemplo, sensores e deixar uma máquina conversando com uma máquina, identificando possíveis problemas imediatamente. É o que a gente chama de baixa latência, ou seja, o menor tempo de resposta. O 5G permite isso.
O 5G é o passo inicial para essa cadeia produtiva automatizada e toda integrada digitalmente na indústria. Como essa comunicação entre máquinas pode ser exemplificada?
É um caminhão da Vale do Rio Do Rio Doce, na mineração, sem motorista (automatizado). Ou uma fábrica que tem um sensor de temperatura e avisa antecipadamente um possível superaquecimento. Isso ocorre com um trânsito muito alto de dados. O 5G permite a velocidade, a capacidade de processamento (dos dados), com uma resposta imediata. Aí você pode ter uma indústria 4.0. Essa tecnologia digital realmente entrega um aumento significativo da produtividade, onde você pode deixar a máquina funcionar sozinha e você operar de longe. É essencial para a indústria, essencial para tudo, do videogame à questão de saúde (telemedicina).
Um aumento da produtividade já quantificado?
Nós buscamos calcular esse impacto no PIB, mostrando a diferença de você fazer uma implantação rápida. Se em vez de 40%, em 2030, estivermos com 80% do território (brasileiro) coberto pelo 5G, o aumento no PIB será cerca de 80 bilhões de reais. Agora o 5G precisa chegar não só nas capitais. A indústria não é só no centro de Brasília ou São Paulo, mas em áreas mais afastadas do centro também.
O que dificultou a implantação do 5G no país? Instalação das antenas?
Demorou o leilão, mas, a partir do momento que foi feito, quem vai instalar as antenas são as empresas privadas que ganharam a concorrência. Se dependesse do governo, não teríamos dinheiro. Agora, tem que mudar a legislação de antenas em cada município, pois são legislações municipais (os municípios, individualmente, têm a prerrogativa de regular a ocupação do solo pela infraestrutura de telecomunicações). Há projetos no congresso tentando agilizar essa questão, mas vai depender muito de cada câmara mudar a legislação local. Só 106 ou 1% dos (5.568) municípios brasileiros apresentaram a nova legislação (adaptada às condições para instalação de mais antenas). São cinco vezes mais antenas que o 4G.
As empresas poderão ter conexão privada, certo?
Em geral, as grandes empresas vão contratar uma rede privada (de conexão da internet), até por questões de segurança. No leilão foi reservada uma faixa de frequência para isso, só que precisa ser regulamentado pela Anatel e, assim, as empresas ganhadoras do leilão poderão oferecer à indústria a venda de redes privadas de conexão 5G.
Qual a conexão da quinta geração da internet com o que é chamado de internet das coisas?
Hoje, dentro de casa, quando se conectam muitos aparelhos, você tem uma queda na velocidade. O 5G vai acabar com isso, ele permite a conexão estável de número gigantesco de aparelhos ao mesmo tempo. É a televisão conversando com a geladeira, conversando com a máquina de lavar e gerando informações funcionais ao dia a dia (como a roupa lavada que ficou seca). É a possibilidade de não só a televisão e celular, mas muitos eletrodomésticos conectados à internet.
Existe a perspectiva de muito gasto com a transição para o 5G, sendo necessário um investimento enorme dos setores industriais, você concorda?
É o medo de trocar todas as máquinas na indústria, o que não precisa ser de uma vez. É custosa, mas tem um retorno significativo. Vai precisar de um investimento pesado, mas isso vem das companhias, está sendo pago pelo setor. É um investimento que vai aumentar a produtividade da indústria e o padrão de vida das pessoas, seja para se divertir, para trabalhar e ser mais produtivo. É um investimento que vai gerar ganhos significativos no país.